Roleta russa do sexo: especialistas alertam sobre riscos no início da vida sexual
- Edvanderson Rodrigues
- 28 de abr.
- 3 min de leitura

Foto: Itatiaia
Por Izabella Gomes
Caso de gravidez na adolescência reacende debate sobre educação sexual, saúde mental e a importância da proteção de jovens
Recentemente a psicanalista Andréa Vermont viralizou nas redes sociais ao relatar, em entrevista ao podcast 3 Irmãos, o caso de uma adolescente de 15 anos que engravidou após participar da chamada “roleta-russa do sexo” — prática na qual meninas se sentam, uma a uma, sobre meninos com ereção, de forma aleatória.
À Itatiaia, Paula de Paula, conselheira do CRP-MG, e Nay Macêdo, psicóloga especializada em proteção infantojuvenil, explicaram sobre os perigos da “roleta-russa do sexo”.
Engajamento de toda a sociedade
Para a conselheira Paula de Paula, do CRP-MG, práticas como essa são sintomas de um tempo marcado pelo afastamento entre gerações.
“Os adolescentes estão sozinhos. E onde há solidão, há redes sociais. Eles buscam vínculos e experimentações, muitas vezes sem nenhuma supervisão”, avalia.
Segundo ela, o jogo — que já leva em seu nome a associação com o risco extremo — revela o quanto a vida de alguns adolescentes tem sido banalizada.
“Se a menina não percebe nem se houve ejaculação, é porque não está nem conseguindo compreender a gravidade do ato. Isso é devastador.”
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Paula ressalta que os impactos não são apenas físicos — como gravidez indesejada ou infecções sexualmente transmissíveis —, mas também mentais e sociais. “É toda uma estrutura familiar que adoece junto. E isso não é novo. Há décadas nos preocupamos com comportamentos sexuais de risco, e eles persistem em todas as classes sociais.”
A conselheira ainda destaca que, embora nem sempre os dados revelem aumento expressivo desses comportamentos, o fenômeno continua recorrente — e cada vez mais visível por conta da internet. Para ela, a prevenção depende do envolvimento coletivo.
“A proteção não é tarefa só da escola, nem só da família. Exige investimento em políticas públicas, lazer, cultura, esporte. Adolescentes que ocupam seu tempo com atividades saudáveis têm menos chances de cair em práticas autodestrutivas.”
A falta de valorização da educação, especialmente da educação sexual, também é apontada por Paula como um entrave.
“Enquanto houver resistência das famílias e negligência do Estado, seguiremos tratando sexualidade como tabu, e adolescentes seguirão buscando respostas — e pertencimento — nos piores lugares possíveis.”
Importância do afeto familiar
Para Nay Macêdo, psicóloga especializada em proteção infantojuvenil, o envolvimento de adolescentes em práticas como a “roleta-russa” não pode ser lido de forma simplista. “Não é só uma escolha pontual. É multifatorial. O cérebro ainda está em desenvolvimento, eles buscam pertencimento, afeto. É uma fase de experimentação. Se somarmos isso a uma cultura que erotiza a infância e abandona os adolescentes, o resultado é esse.”
Segundo Nay, fatores emocionais como baixa autoestima, vazio, negligência e falta de afeto contribuem para esse cenário.
“Há também uma ausência profunda de adultos presentes. Muitos adolescentes não se sentem vistos. Quando não há conversa em casa, quem fala por eles é a pornografia, a violência, a internet.”
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A psicóloga reforça que o papel da família deve ir além da repreensão.
“Educação sexual é sobre vínculo. Começa no jeito como a criança é tocada, ouvida, acolhida. Não é tema de uma só conversa, mas de uma relação contínua de confiança. Quando os pais silenciam, o mundo fala — e geralmente, com muita distorção.”
Nay acredita que o diálogo sobre sexo e responsabilidade pode — e deve — ser feito com naturalidade, sem moralismo, mas com clareza. “Precisamos falar com contexto, com verdade, sem medo. Não é sobre incentivar ou reprimir. É sobre ensinar que o corpo importa, que a vida tem valor e que o prazer não deve vir com dor ou arrependimento.”
* Sob supervisão de Lucas Borges






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